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Filme do dia – O resgate do soldado Ryan
Nota: 9
Ano: 1998
Ator 1: Tom Hanks
Ator 2: Matt Damon
Diretor: Steven Spielberg
Oscar: Concorreu a onze e ganhou 5!
Se enquadra nas seguintes categorias: Relacionado à história; Ação sem fôlego; Guerra.

Comentário: Falar sobre um de seus filmes favoritos é sempre uma fonte de sentimentos antagônicos. Por um lado é evidente o prazer de relembrar uma obra que te tira o fôlego. Em compensação, é um desafio mental tentar evidenciar todos os motivos que fazem o filme ser recomendável.

Sem sombra de dúvidas, “O resgate do soldado Ryan” é o meu filme de guerra favorito (e TOP 5 geral!). Me perdoem os fãs de “Platoon” e “Apocalipse Now”, mas vou fundamentar a minha escolha. Este gênero, que tanto agrada o público masculino, possui alguns elementos que devem ser tratados com muito cuidado, sob pena de prejudicar o seu resultado final:

(I)                 É claro que um filme de guerra tem tiro e ação pra todo lado, mas o público deve entender o que se passa. Muitos filmes de guerra tentam passar a real sensação da guerra (que nada mais é do que um fuzuê bélico), mas acabam simplesmente retratando uns 20 ou 30 minutos seguidos de barulheira em que o espectador não consegue saber o que se passa. “Falcão Negro em perigo” é um filme que em diversas cenas peca neste tocante. “O resgate do soldado Ryan”, por sua vez, é perfeito neste tocante. A ação é frenética e o tiroteio é constante, mas sempre é possível saber o que se passa com cada um dos atores do filme (os primeiros 20 minutos do filme, que representa o desembarque na Normandia, é considerado a cena mais sangrenta e agitada de todos os tempos, mas é de uma beleza apaixonante. Dá pra se ver unas 5 vezes seguidas este começo e em cada uma delas ficar impressionado por algo.

(II)               O filme tem que ser dramático e o sofrimento tem que ser “poético”, mas não abuse senão fica piegas e retira a proximidade de quem assiste. Pra mim tanto “Platoon” quando “Apocalipse Now” pecam demais nesse ponto. O assassinato de um dos mocinhos em Platoon (na cena mais clássica do filme) não me pegou... achei tosco, me afastou da obra como um todo e deixou tudo muito forçado logo em seu clímax. Já “O resgate do soldado Ryan” é excelente neste ponto. É até difícil eleger um clímax dramático para o filme. O drama de cada soldado na obra, do principal ao primeiro do grupo a morrer, é colocado na pitada certa. Uma receita que saiu exatamente no ponto!

(III)             Embora todos os soldados fiquem parecidos de uniforme, você tem que distinguir quem é quem. Em “Falcão Negro em perigo” e “Platoon” você é incapaz de distinguir quem é o ator que participa de diversas cenas. Você fica em dúvida quem foi que morreu em determinado momento e só pode concluir quem foi quando o ator não aparece mais no decorrer da obra. Isso quando você consegue saber qual era o nome do personagem que morreu. Em “Resgate do Soldado Ryan” tudo é feito de uma forma que você tem total domínio dos personagens e de suas ações. Cada morte de um dos atores é sentida por quem assiste o filme.

(IV)             O roteiro não pode se limitar a “Isto é uma guerra, sobrevive aí!”. Ao mesmo tempo, não pode esquecer que a batalha campal é essencial. Aqui muitos filmes se perdem. “Platton” não possui uma linha muito clara de qual seria a intenção  do roteiro. “Apocalipse Now” e “Tigerland” quase esquece que são filmes sobre guerra, tudo fica em segundo plano pra uma enrolação sem explicação. Já “O resgate do Matt Damon”(:P) é o roteiro mais espetacular que já vi de guerra. Basicamente, 4 irmãos vão paraa guerra (Família Ryan) e 3 deles morrem logo no comecinho. Então o relações públicas do exército decide que é uma ótima propaganda levar o último irmão são e salvo paraa família. Só que ele tá lá no olho do furacão da guerra. Desta forma, escolhem um capitão experiente (Tom Hanks) pra selecionar seus melhores soldados e ir resgatar o Ryan sobrevivente. Fica a questão? Vale tanto a pena sacrificar vários bons soldados apenas para resgatar um? Este drama sofrido de foma inconformada por todos os personagens vale ouro, e mantém o nível do filme até o seu final.

Ademais, não se pode deixar de aplaudir a atuação de todo o elenco. Tom Hanks está sensacional, Matt Damon está em seus dias bons, Tom Sizemore é o tempero certo para a obra, mas todos os demais membros do pelotão merecem um  agradecimento especial por esta raridade de película, que mantém qualquer platéia vidrada no que ocorre. A fotografia é sublime, a trilha sonora é demais... enfim, não tem como elogiar menos.

Outro ponto divertido em filmes de guerra é que em alguns anos depois você sempre pode se divertir descobrindo que estrelas da atualidade eram figurantes na época da obra. Em “Platoon” temos Jhonny Deep, por exemplo! O novato da vez é “Vin Diesel”! É bem engraçado ver ele bem menos forte e com pouco destaque ao longo da obra tentado colaborar no resgate do menino Ryan.


Por fim, se é que não ficou claro, recomendo para todo desleixado que não viu este filme que não perca mais tempo e assista agora! Será uma rara exceçãopara aqueles que não gostam de filme de guerra (pois vão adorar) e será a cereja do bolo para qualquer um que goste de uma ação sem fôlego.
Nota: 6
Ano: 2004
Ator 1: Bruno Ganz
Ator 2: Alexandra Maria Lara
Diretor: Oliver Hirschbiegel
Oscar: Concorreu a um oscar, mas não ganhou.
Se enquadra nas seguintes categorias: O mundo é uma merda; Baseado em fatos reais; Relacionado à história.

Comentário: “A queda” é um filme que gerou muita polêmica e muita discussão no ano de seu lançamento. Não foi pequeno o número de exaltados que desaprovavam aos brados o teor e o conteúdo deste filme. Tudo isso pelo fato de que, inspirado em algumas obras biográficas, o filme visa relatar os últimos dias da vida de Adolf Hitler e o desfecho da segunda guerra mundial em território europeu.

A história sempre foi escrita pelos vencedores. Como Hitler foi o perdedor que mais chegou perto de ser vencedor em nossa era contemporânea, ele foi erguido ao posto de Voldemort da história da humanidade. Aquele-que-não-deve-ser-nomeado inspira um ódio coletivo e uma reprovação quase unânime! O gosto amargo e ruim surge de forma reflexa em nossa boca ao falarmos de Hitler e seus nazistas. A repugnância é tão grande que associar alguma conduta ou opinião como sendo algo compartilhado por Hitler é, por si só, uma ofensa natural, mesmo que ilógica. Quer um exemplo? Sabe quem era racista? Hitler! (fundamento lógico); Sabe quem defendia a esterilização de grupos indesejados? Hitler (fundamento quase lógico); Sabe quem defendia a prevenção positiva utilizando-se penas graves para infratores? Hitler (fundamento não tão lógico); Sabe quem era vegetariano? Hitler! (fundamento ilógico).

Não estou aqui tentando defender o Fuhrer alemão. Obviamente ele liderou uma série de práticas hediondas e matou uma galera de forma cruel e repugnante. Só fico admirado que diversos outros líderes fizeram um monte de coisas semelhantes, com um número de vitimas até mesmo maior, mas não são tão odiados pelo inconsciente popular. No entanto, vejo como positiva a lembrança geracional de que um mal deve ser coibido e que qualquer justificativa para o extermínio é equivocada; se para isso escolhemos como símbolo um ódio extremo a Hitler, que seja!

Voltando ao  filme, o roteiro possui como ponto de partida a visão e narração de Traudi Junge (Alexandra Maria Lara) desde o seu primeiro dia como secretária pessoal de Hitler. Conforme esta vai ganhando uma relação de proximidade e familiaridade com Hitler, o filme suavemente vai ganhando um novo protagonista e, ao final, passamos a ver os fatos com a perspectiva pessoal do próprio Adolf e seu bigodinho. Pela quase ausência de trilha sonora e pela tentativa de se ater ao máximo aos fatos descritos nos livros paradigmas, o filme ganha um ar de documentário, e o espectador possui a sensação de que cada cena corresponde à estrita veracidade da história real.

Além de uma fotografia brilhante (deixando tudo mais nu e cru, como se verdade fosse), deve-se destacar a atuação de Bruno Ganz como Hitler. Aliás, esta atuação é a essencia e o carro-chefe da obra. É quase impossível não acreditar que o próprio Hitler esteja estrelando o filme; e a ausência de uma premiação de Oscar para o ator principal é digno de lamentação (ele sequer foi indicado ao prêmio).

Por ser muito extenso, não tenho como não admitir que o filme se torna cansativo. A tentativa de aproximar o ocorrido com a realidade impede que apareçam muitos clímax e anti-clímax na obra, tudo fica mais parado, e a sonolência é inevitável. Todavia, aos interessados pelo tema, temos um prato cheio! Digno de ser exibido em aulas de história ou objeto de análise pelos amantes do passado.


Quem não viu o filme e lê esta resenha se pergunta: E por que raios esse filme gerou tanta polêmica? O motivo principal se encontra na tentativa de humanizar Hitler. O protagonista é colocado na obra quase de forma esquizofrênica, capaz de ser tomado por um furor de ódio, mas ao mesmo tempo demonstrar uma bondade, uma humildade e uma benevolência para seus subordinados e companheiros. 

Afinal, qual de nós, diante de uma derrota quando quase se conseguiu ter o mundo em mãos, não alternaria entre a compaixão com seus seguidores e a fúria diante de seus revéses? Humanizar Hitler gera pavor e desaprovação, por nos aproximar dele. A lembrança de que Hitler era um simples ser humano nos amedronta, por gerar a idéia de que poderíamos ser como ele, ou melhor, que poderíamos ser ele! É muito mais fácil pensarmos que os nazistas eram um bando de loucos sem noção que possuíam um coração negro no meio do peito. Um conto de fadas faz com que todos possam dormir felizes. 

No entanto, a lembrança de que a fúria e o ódio são naturezas humanas nos tornam mais senhores de nós mesmos! E muito mais capazes de impedir que um novo Voldemort surja! Agradeço ao filme por isso, e espero que outros nessa linha sejam produzidos.
Nota: 8
Ano: 2011
Ator 1: Tilda Swinton
Ator 2: Ezra Miller
Diretor: Lynne Ramsay
Oscar: Não concorreu a nenhum.
Se enquadra nas seguintes categorias: O mundo é uma merda; Mão na consciência; Suspense psicológico; Manual de como virar um psicopata; O objetivo é chocar.
Comentário: Um cinéfilo sempre gosta de ter na manga alguns filmes absolutamente sensacionais, mas ao mesmo tempo desconhecidos, para recomendar aos colegas e depois receber o agradecimento pelo mapa do tesouro fornecido. “Precisamos falar sobre o Kevin” é exatamente isso! Quase ninguém viu, mas todo mundo deveria ter visto!
Ele é brilhantemente estrelado pela Tilda Swinton (quem? Pois é, ela é o elemento perfeito para os filmes desse molde. Genial, impactante, sensacional, estupenda! Mas você vai esquecer o nome dela assim que terminar de ver o filme) e ainda possui a notável revelação do Ezra Miller.
O roteiro, baseado em um livro, conta a história de uma mulher (Tilda Swinton) que casa jovem, engravida em momento indesejado e se vê compelida a abdicar de seus planos para a vinda de seu filhote. Parece batido né? A conclusão natural disso seria: E ela se descobre encantada com a experiência de ser mãe e começa a amar seu filho com todas as forças, e ele, por fim, se torna a alegria de viver da mamãe.
Pois é... eis o modelo Doriana imposto e requentado para todo modelo familiar. Mas aqui a história narrada acontece ao contrário: A protagonista detesta sua gravidez e não consegue criar um vínculo de amor natural com seu filho (embora ela tente); e quando acontece o nascimento, tudo leva a crer que seu filho, Kevin (Ezra) também não gosta nem um pouco dela! Conforme o tempo vai passando, a relação vai ficando cada vez mais doentia e os conflitos crescem de forma exponencial e com consequências alarmantes.
Embora a mãe naturalmente perceba que sua história esteja destoando do natural, ela se sente incapaz de compartilhar esta situação com os demais: Médicos e especialistas afirmam que seu filho é normal, as sensações que ela está sentindo são normais, passageiras e que tudo está controlado; seu marido também entende que tudo está normal e, como ele aparentemente tem uma relação saudável com seu filho, não admite qualquer cogitação de que possa existir alguma disfunção comportamental que exija uma intervenção externa ou ajuda profissional. Por fim, resta a todos os envolvidos simplesmente fingir que suas vidas e relações são superficialmente adequadas, trocando todas as suas dúvidas e amarguras pelo silêncio.  E aqui a trama começa a se desenvolver...
O filme possui uma profundidade tão grande, um tema tão complexo, que não é raro vê-lo sendo discutido nas rodas de psicanálise, psicologia, psiquiatria e etc. Ao mesmo tempo, podemos simplificar tudo falando que se trata de um puta filme de suspense, capaz de prender sua atenção do começo ao fim, com uma trilha sonora no ponto certo e com fotografias geniais (mesmo! Obra de arte!).
A aparente ausência de amor imediato com sua prole é um desconforto que acompanha todas as mães novatas desse mundo. É por isso que o filme causa um incômodo tão grande em mulheres jovens. A situação narrada no filme não é a dela, mas potencialmente poderia ser, e isso gera um pavor completamente justificável.
Peço agora para quem ainda não viu o filme que pule para o último parágrafo do texto, ficando aqui o resumo de que ele deve ser visto por qualquer um, independente dos seus gostos cinematográficos.
A partir de agora quero deixar algumas reflexões para quem já viu o filme (contém Spoilers):
Em um primeiro momento, tive a tendência de concordar com as pessoas que afirmavam que o roteiro deixa claro a conclusão de que o comportamento de rejeição da mãe foi fundamental para o desenvolvimento da psicopatia do filho (e neste ponto as pessoas se dividem entre aquelas que concordam com esta conclusão e as que dela discordam, falando que o filme é tendencioso e se trata de mais um exemplo de filme que culpa a mulher por tudo).
No entanto, refletindo um pouco melhor, penso que o filme sequer conclui neste sentido. Não há qualquer conclusão categórica nele acerca de quem seria o culpado; podemos pensar que a culpa está na inaptidão da mãe, na necessidade do pai de enxergar sua família como perfeita ou até mesmo no próprio Kevin por ser uma espécie de mal encarnado. Aliás, é preciso mesmo ter um culpado? Estamos tão perfeitamente enquadrados neste molde, que procuramos um culpado dentro dele para o desencaixe da realidade com o padrão geral: uma mãe deve amar seu filho incondicionalmente, um pai deve ser zeloso com os problemas de sua família e o filho deve ser amável e doce com seus genitores. Será que o problema não seria o quadro? Quais são as reais causas e consequências para uma fuga do padrão imposto?
Posso ir além, na minha opinião, o grande culpado da história é o silêncio! E por isso o título desse filme é sensacional. Estamos tão preocupados com o molde que qualquer questionamento sobre a possibilidade de outro encaixe igualmente correto gera uma anomalia. Ser fora do quadro, por si só, já é um problema, independente da existência de qualquer consequência negativa. É possível uma mãe falar que não gosta de um filho, ou vice-versa, sem que isso seja um problema? Se o fato, por si só, já é um defeito, as pessoas envergonhadas o empurra para debaixo do tapete e fingem que estão dentro do quadro. Talvez, e aqui sou eu especulando, se fosse aceitável que a protagonista discutisse a falta de amor recíproca, seria possível perceber que além da falta de carinho, e talvez até de forma desconexa a ela, haveria uma psicopatia natural de seu filho que deveria ser adequadamente tratada.

Enfim, minha irmã, ao assistir o filme em 2011, se traumatizou de tal forma que concluiu que nunca seria mãe. Alguns anos depois, ela se revela a mais empolgada e apaixonada mãe de gêmeas que já vi em minha vida. Mas se você perguntar se ela quer ver de novo este filme, é possível que com um imponente arrepio na espinha ela emita um sonoro “Não” de forma reflexa... mas ela sabe que o silêncio não é a resposta,  ela sabe que precisamos falar sobre o Kevin!

Nota: 1
Ano: 1963
Ator 1: Marcello Mastroianni
Ator 2: Anuk Aimée
Diretor: Federico Fellini
Oscar: Concorreu a 5 e ganhou 2.
Se enquadra nas seguintes categorias: O mundo é uma merda; ????; Frases de efeito; Escapista; Alternativo; Antropologia poética.

Comentário: Confesso que sempre tive uma vontade curiosa de ver um filme do Fellini, tão elogiado pelos entendedores da sétima arte. Ainda maior era minha curiosidade em conhecer o filme “8 e ½”, intitulado por muitos conhecidos como sua película favorita de toda  vida.

Todavia, sempre tive a real sensação de que iria desaprová-lo, uma vez que seus declarados admiradores possuíam um aspecto em comum: A qualidade de admirar obras abstratas, densas e “cult” demais para o padrão ordinário (me  considero um legítimo cinéfilo de gosto comum). Sabe essas pessoas que tem a visão além do alcance? Uma espécie de terceiro olho, que consegue distinguir uma arte abstrata ímpar de um rabisco de uma criança de três anos? Pois é, sou do time que geralmente acha essas coisas abstratas uma coisa mal feita disfarçada de sublime. Pombas, quer desenhar uma mulher sofrendo? Desenha uma mulher sofrendo! Não desenha uma bola com três pingos coloridos no meio e fala que isso representa a “sofrência”!  No filme é a mesma lógica: Quer fazer uma história sobre uma mulher que sofre? Coloca uma atriz chorando! Não me filma uma bola girando e depois virando uma girafa e fala que isso representa a dor sofrida.

Enfim, compreendendo esta minha visão de arte (limitada, admito), é razoável pensar que eu não gostaria de um filme “cult”... Mas não é que “8 e ½” me supreendeu?? Conseguiu ser pior ainda!!! Ganhou o título do filme que mais me deu desprazer em assistir! Juro! Foi um desprazer tão assustador que eu tenho até a vontade sádica de incentivar pessoas a assistirem só pra testar se eu sou normal! No nível pular na piscina gelada e fingir que tá quentinho pra outras pessoas pularem também! Pra voces verem: Eu e meus pais fizemos o desafio de tentar sobreviver até o fim da obra, apontada no encarte como tendo duração de 90 minutos. Quando chegou ao minuto 91 e descobrimos que a indicação estava errada, meu pai saiu bufando da sala como um desertor de uma guerra (o filme tem longos 138 minutos), minha mãe dormiu e eu banquei o espanhol teimoso que foi até o fim.

A história relata um momento da vida de um fictício cineasta famoso, de nome Guido Anselmi (Marcello Mastroianni), o qual se encontra “travado” e incapaz de escrever um roteiro para sua próximo obra (os especialistas dizem que Fellini estava fazendo uma auto-biografia neste roteiro). Ele esconde essa incapacidade de todo mundo e finge que o roteiro está pronto, com todo elenco e produção esperando apenas o texto para começar a gravação. Pra tentar desenpacar, o protagonista faz uma busca introspectiva sobre a sua vida e a influência de todas as mulheres que marcaram o decorrer de seus anos.

Pois bem, até parece que poderia sair um roteiro decente disso né? Mas isso é explicado em cinco minutos e a partir de então é como se todo espectador tomasse dez litros de chá de cogumelo e ficasse o resto do filme tendo alucinações. Nenhum diálogo terá mais do que cinco minutos de lógica concatenada, nenhum trecho do filme é essencial para se chegar a conclusão final (na verdade sequer há uma história linear.. não vi começo, não vi meio e não vi algo que possa ser chamado de fim) e poucas são as cenas que você consegue identificar exatamente o que está acontecendo.

O nível de desorientação foi tamanho que sequer sei avaliar a qualidade da atuação, da fotografia e demais elementos do filme (a trilha sonora me parecia bacana)..enfim, foi uma sensação constante  de incapacidade, como um analfabeto com o texto na mão.

Desafio qualquer um a ver este filme! E conto com a benevolência de alguns em explicar um pouco dele! Não é possível que um filme tão premiado, tão renomado e tão apreciado por muitos possa permanecer por toda minha vida com o título de “o pior filme já visto”! (pra quem quiser uma experiência mais light, existe uma releitura da obra feita por um elenco recheado de estrelas e que ouvi dizer ser um pouco menos densa e mais realista. Confesso que não tive coragem de enfrentar uma experiência semelhante à anterior e, por isso, não assisti. Esta releitura possui o nome de “nine”).
 
Nota: 6

Ano: 1981

Ator 1: Henry Fonda

Ator 2: Jane Fonda

Diretor: Mark Rydell

Oscar: Concorreu a 10 e ganhou 3.

Se enquadra nas seguintes categorias: O mundo é lindo; mão na consciência; Escapista; Antropologia poética.

Comentário: Todo ser humano, de início, desgosta de uma marmelada. Isto é, ninguém aqui tem prazer em descobrir que acontecimentos supostamente verídicos e espontâneos se originaram de uma pré-combinação. Até mesmo quando assistíamos “Gigantes do ringue”, preferíamos nos enganar acreditando que aquela luta era de verdade. Pois bem, é com grande pesar que ouvimos severos boatos de que este filme foi produzido por Jane Fonda para que seu pai, Henry Fonda, fosse finalmente agraciado com um Oscar de melhor ator. De fato, foi uma excelente oportunidade para que uma grande injustiça fosse corrigida e este excelente ator pôde ser incluído no hall seleto dos premiados (por pouco isso não aconteceu, Henry Fonda faleceu pouco tempo depois, sendo este o seu último filme).

Mas o contexto acima citado diminui o valor deste filme? Deveria, mas não consegue! Isso porque a obra é de uma singeleza, uma beleza simples, uma profundidade simultaneamente leve, que, no fim das contas, faz a película merecer suas palmas, seus créditos e, porque não, suas premiações (embora dez indicações ao Oscar me pareça um certo exagero).

No filme, Henry Fonda e Katharine Hepburn (que dupla!) interpretam um casal de idosos passando suas férias de verão em uma casa de campo. Embora felizes, é possível observar que algo impede que um sentimento de plenitude reine sobre a morada, e o motivo não tarda a ser revelado: A relação estremecida entre o velho Norman (Henry Fonda) e a filha do casal (Jane Fonda), que sempre se amaram mas nunca conseguiram demonstrar seus sentimentos. A vida e as brigas sem valor afastaram pai e filha e o vazio entre eles não parece que será um dia preenchido. Entretanto, por uma necessidade pessoal, a personagem de Jane se vê obrigada a deixar seu filho, neto de Norman, sobre os cuidados do velho casal durante uma temporada de verão. Avô  e neto nunca conviveram juntos e a má vontade para este início tardio de um relacionamento afetivo é patente. O filme, então, é uma bela narrativa sobre o desenvolvimento natural dos laços afetivos entre os envolvidos, na qual os sentimentos positivos naturalmente vão se sobrepondo aos negativos, não sendo difícil retirar da cativante história elementos de reflexão para que possamos valorizar e cuidar melhor dos nossos próprios relacionamentos abandonados diante de uma rotina insana.

Embora com uma fotografia minimalista e poucos diálogos de efeito, não faltam elementos para garantir os aplausos do público: o roteiro é forte suficiente para, juntamente com a competente atuação de Henry Fonda, fazer o filme valer os seus minutos de duração.

O filme então é extraordinário? Ficará marcado na história? É indispensável? Sinceramente, acredito que não! No final das contas, ele não supera a categoria de “obra bonitinha”, mas isso não desvaloriza a merecida homenagem à Henry, e não é uma má despedida deste grande artista. Jane Fonda quis dar um presente ao seu pai, mas quem agradeceu foi o público.

Nota: 9
Ano: 2004
Ator 1: Clint Eastwood
Ator 2: Hilary Swank
Diretor: Clint Eastwood
Oscar: Concorreu a 7 e ganhou 4.
Se enquadra nas seguintes categorias: O mundo é uma merda; Esporte.

Comentário: No mundo cinematográfico sempre existirá grande polêmica sobre a qualidade de filmes. Não é raro encontrar uma discussão em um bar acerca da genialidade, ou não, de “Star Wars”, se seu tempo passou, ou até (opiniões polêmicas) se o filme é meio bobo. Também é discutido se “Clube da Luta” é genial ou violência vomitada, se “Pontes de Madison” é uma jóia rara ou uma chatice sem fim. No entanto, existem poucos filmes que entram em um rol indiscutível, sendo muito difícil encontrar alguma pessoa que retire esta película do nível “Ótimo” e a despromova para o nível “Bom”. “Menina de ouro” é um filme de 2004 que entrou neste rol para, provavelmente, nunca mais sair.
O filme contém a fórmula mágica de seu diretor: Clint Eastwood é um cara com péssimo humor, parece que já sofreu bastante e é apurrinhado por alguém carismático e pentelho que tenta usufruir do lado bom do velho rabugento (no caso, este alguém é Hilary Swank). Pra arrematar tudo, o filme tem uma fotografia fria e bela e possui a sempre soberba narração de Morgan Freeman, que faz o seu eterno e espetacular papel de coadjuvante sábio. A fórmula é velha e já rendeu inúmeros filmes dignos de aplausos, como “Gran Torino”, “Os imperdoáveis” entre outros, que inexplicavelmente não cansamos de assistir. Mas qual o motivo deste filme se destacar entre todos e se tornar uma lenda? A resposta: O roteiro! Não se trata de apenas um roteiro extraordinário. É simplesmente um dos melhores roteiros que já vi; que pega aquele elemento especial de cada gênero do cinema que conhecemos (a superação dos filmes de esporte, o sofrimento dos filmes de drama, as lições de um filme poético, a felicidade de um filme simples, a paixão dos filmes de amor e a raiva dos filmes de ação) e é capaz de fazer uma história firme, sem falhas, digna de produzir inúmeras lições ao telespectador; uma obra que diverte, acrescenta, emociona e homenageia, tudo em uma só! Eu pareço um vendedor de Polishop falando sobre ele... mas não consigo parar de babar-ovo quando falo desta obra-prima.
A história é divida em duas partes. Em sua primeira metade o filme é uma espécie de readaptação de “Rocky” para os dias atuais, com um pouco mais de humor e dinamicidade., no qual Hilary é uma boxeadora pobre que quer virar uma profissional, e, tendo enorme potencial e teimosia, consegue superar a resistência de Clint, um sparring em decadência, que não deseja treinar uma mulher,e quase o obriga a ser seu treinador e amigo. Nesta parte, o grande destaque para mim é Morgan Freeman, que brilha em cada mínima participação de seu personagem. No seu “segundo ato”, o filme vira uma melhoria de “Mar Adentro”, no qual a atuação de Hilary Swank supera qualquer prévia expectativa sobre a atriz (é incrível como a atriz, com tão poucos filmes de peso em sua carreira, conseguiu ter surpreendido o mundo por duas vezes, rendendo suas duas estatuetas do Oscar – em “Menina de Ouro” e “Meninos não choram”. Qual o motivo dela não ser ainda cotada como uma das melhores de sua geração?).
Enfim, são tantas as qualidades técnicas que podem ser detalhadas (fotografia impecável, trilha sonora contida, atuação individual de cada um e etc) e tantas reflexões pertinentes sobre a vida (simplicidade e competência da protagonista, compaixão e cuidado do personagem de Clint, ingratidão e falta de alteridade da família da boxeadora, o companheirismo silencioso entre Clint e Freeman), que a melhor coisa a se fazer é simplesmente guardar os comentários para si próprio e se limitar a recomendar fortemente para toda a população mundial que se encante com esta história magnífica.

Vale a pena ver e rever toda vez que encontrá-lo passando na televisão. Mo cuishle!
Nota: 7
Ano: 2008
Ator 1: David Kross
Ator 2: Kate Winslet
Diretor: Stephen Daldry
Oscar: Concorreu a 5 e ganhou um.
Se enquadra nas seguintes categorias: O mundo é uma merda; Relacionado à história; Escapista; Antropologia poética; Te vejo no tribunal.
Comentário: Os filmes de Stephen Daldry, entre eles o consagrado “As horas” e o recente “Tão forte e tão perto” estão provavelmente entre os maiores desafios dos atores de Hollywood. São filmes em que os artistas devem interpretar pessoas que possuem poucos estímulos exteriores para esboçarem reações e interagirem com o meio, mas que silenciosamente devem lidar com uma eclosão de sentimentos geradores de angústia em níveis kafkanianos. Interpretar algo parecido deve ser um grande desafio para qualquer gênio da atuação.
No presente caso, a brilhante, e futura substituta de Meryl Streep, Kate Winslet cumpre este papel com perfeição! O filme é, do começo ao fim, um verdadeiro show de atuação da protagonista de Titanic (qual o motivo dela ter ficado marcada como Rose em meio a tantos outros personagens de excelente qualidade?). Não bastando, o capaz Ralph Fiennes e o promissor David Kross completam a missão de tornar este filme um verdadeiro sucesso.
É certo que os filmes deste diretor não são movimentados, chamativos e, por isso, são chamados de cansativos e “parados” por muitas pessoas (que não deixam de ter razão), mas são filmes com profundidade assustadora, que resultarão em reflexões posteriores pertinentes e um sentimento inquietante difícil de se explicar; talvez pelo fato do filme falar com o seu estômago, e não com o seu coração. De qualquer modo, é certo que, ao final da obra, você será uma pessoa diferente daquela que começou a vê-la, uma vez que, mesmo que de forma mínima, sua visão do mundo ganhará uma nova perspectiva.
Em “O leitor”, o roteiro conta a história de Michael Berg (David Kross), um relativamente abastado adolescente alemão do período pós-2ª guerra mundial, que conhece uma mulher mais velha, Hanna (Kate Winslet), pobre e inculta. Os dois começam a ter relações sexuais que resultam em diferentes experiências para cada um dos envolvidos. Para o garoto, sua tentativa de racionalizar estas relações resultam em uma tentativa de romantizar tudo e tentar fazer a relação se tornar algo amoroso. Para a mulher, a tentativa de tornar aquilo algo frio, distante e simplesmente mais um acontecimento de sua triste vida sem significado é patente. Em um primeiro momento somos levados a acreditar que o filme se limitará a este tema (o que faria tudo ficar menos elogiável e mais parnasiano), quando somos subitamente arrancados para outra temática: A mulher desaparece sem aviso prévio; 8 anos se passam; e o jovem Michael, agora estudante de direito e integrante do grupo de estudos dos julgamentos dos acusados dos crimes nazistas acontecidos durante a guerra, é surpreendido ao revê-la sentada no banco dos réus, sendo responsabilizada pela morte de centenas de judeus.
É nesse momento que o filme alcança sua verdadeira pretensão: Tentar relatar, racionalizar e entender todos os sentimentos e condutas dos dois durante e após este julgamento, tendo em vista a inevitável ligação do passado entre ambos. O garoto é simplesmente arrebatado pelas memórias de seu primeiro amor ligadas à alguém acusada de tantas atrocidades e o sentimento de culpa passa a ser a temática da película. Mas culpa do quê? A culpa do menino por ter tanto carinho por alguém responsável por fatos tão lamentáveis? A culpa da mulher por ter feito o que fez? A culpa do jovem por abandonar uma pobre mulher que o ajudou em um passado próximo nos momentos de linchação pública? A culpa do homem por ajudar esta mulher que lhe fez tão bem, mas fez tão mal à sociedade?
Como lidar com tais sentimentos complexos maximizando a alteridade que sentimos por cada um dos envolvidos? O ser humano só sabe lidar com a culpa de uma forma: Buscando o perdão! E é isso que o protagonista tenta fazer nesta trama tão profunda, mas a pergunta que mais me incomodou durante toda a obra: Perdão de quem?

Garanto para quem leu até aqui que o filme não é tão chato como ficou parecendo nessas linhas. Ele é provocador, instigante e meio parado, embora extremamente belo. Não é um filme dispensável, e muito menos descartável! Fica, então, a recomendação para o sábado à  noite.
Nota: 5
Ano: 2002
Ator 1: Steve Oedekerk
Ator 2: Fei Lung
Diretor: Steve Oedekerk
Oscar: Por Deus!!! Nenhum!!
Se enquadra nas seguintes categorias: Sessão da tarde; O principal é imbatível; Desculpinhas para criar cenas de luta; Vendetta; Besteirol.
Comentário: Assim como é necessário estômago para se ver um filme de terror, não sendo recomendável filmes aterrorizantes para quem não gosta do gênero, temos que o estilo “besteirol” também não é recomendado para qualquer tipo de pessoa. Quando eu digo “besteirol”, eu não estou me referindo àquele filme com enredo recheado de piadinhas que garantem a diversão da família. Estou falando daquela película que não tem qualquer objetivo de fazer uma história decente, tendo como único objetivo acumular o maior tipo de baboseiras possíveis em um pseudo-roteiro, desprovido de qualquer sentido relevante. De fato, não é qualquer um que suporta babaquices contínuas por mais de uma hora. Entretanto, há aqueles seres de espírito mais elevado e uma leveza em seu interior que simplesmente não conseguem parar de rir com as constantes idiotices esfregadas na tela (não são poucos e eu, vergonhosamente, me incluo nesta vibe),  de modo que este gênero sempre tem seu público cativo para o contemplar.
“Kung-Pow” é a definição precisa de um filme besteirol. Basicamente, o diretor/ator principal/produtor do filme é um lunático que decidiu pegar um dos clássicos filmes de kung-fu (Savage Killers, de 1977) e resolveu literalmente apagar o personagem principal  e  incluir a si próprio como protagonista do filme. Na obra, o diretor resolve redublar todos os personagens e modifica toda a história original para fazer uma grande comédia escrachada por cima. É algo parecido com as famosas dublagens feitas por Hermes e Renato no programa da MTV ou do “Bateman e a feira da fruta”, famoso vídeo da internet, com o acréscimo de elementos de uma produção cinematográfica.
Não são poucas as boas sacadas do filme, o qual satiriza os notórios erros dos filmes de kung-fu produzidos nos anos 70, especialmente quanto aos erros de continuidade, e a singular bizarrice dos filmes deste gênero.
Entretanto, se a ideia é “genial” em um primeiro momento, extremamente divertida e garantia certa de risadas, deve-se admitir que 90 minutos desta besteira torna-se cansativo (ou até mesmo um martírio para os menos espirituosos). É evidente que o diretor tenta inovar no meio do filme, incluindo novos elementos para tentar variar o estilo das piadas, mas, no fim, fica tudo muito preso ao conceito inicial. Portanto, 10 minutos da obra, 20 minutos ou o filme inteiro, tem a mesma validade para o público, ainda mais quando o filme não tem a menor pretensão de ser um roteiro sério.
É, portanto, o pano de fundo ideal para um encontro de jovens amigos com cerveja, muito papo, e pouca atenção para o que acontece na TV; gerará algumas risadas em determinados momentos, mas não limitará o evento (isto se o seu grupo for extrovertido... será realmente vergonhoso colocar este filme para um pessoal mais retraído).

Por fim, assistí-lo sozinho é uma opção não recomendável para muitos, pois, gostando ou não da obra, não há como negar o elevado grau de paspalhice de quem está sozinho, na frente da TV, assistindo a um bobalhão lutar kung-fu com uma vaca (sim, ele faz isso no filme).
Nota: 6
Ano: 1961
Ator 1: Spencer Tracy
Ator 2: Burt Lancaster
Diretor: Stanley Kramer
Oscar: Concorreu a 8 e ganhou 2.
Se enquadra nas seguintes categorias: Mão na consciência; Baseado em fatos reais; Relacionado à história; Frases de efeito; Te vejo no tribunal.

Comentário: O julgamento de Nuremberg é um dos fatos históricos mais relevantes para o mundo jurídico (talvez o mais relevante do mundo contemporâneo). O chamado “julgamento de Nuremberg”, na verdade, refere-se a uma série de julgamentos ocorridos logo após o fim da segunda guerra mundial, onde 24 agentes do mais alto escalão do partido nazista foram julgados pelos seus crimes contra a humanidade por um tribunal internacional. A importância destes julgamentos para o mundo jurídico não se limita à relevância da segunda guerra e do próprio partido nazista, mas ganhou maiores proporções por se tratar de um fato inédito para a sociedade.
Simplificando para quem não é estudante de direito: Estamos acostumados a ver pessoas sendo julgadas por cometerem atos previamente descritos pela lei como criminosos (você é punido por matar alguém por existir uma lei anterior que manda não matar). No caso, entretanto, os réus do julgamento de Nuremberg obedeceram estritamente ao ordenamento jurídico vigente na Alemanha durante a segunda guerra e os crimes que lhes eram imputados não estavam previstos em nenhuma lei a qual os alemães tivessem obrigação legal de obedecer. Entretanto, os líderes mundiais entenderam que os genocídios e demais atos do alto escalão do partido nazista resultaram em relevante ofensa aos direitos mais naturais do homem, que prescindiam de leis escritas e vigentes para serem obedecidos, de modo que todos poderiam ser julgados pelo mundo em face das atrocidades cometidas. Na verdade, foi um verdadeiro julgamento de toda a Alemanha pelo ocorrido na segunda guerra, uma forma do resto do mundo atribuir à Alemanha a culpa por todas as atrocidades que a humanidade fora vítima entre os anos de 1939-1945.
O filme em exame, por sua vez, retrata um destes muito julgamentos ocorridos: O julgamento de 4 juízes alemães que aplicavam as sentenças com base nas leis alemãs previstas para a época, como, por exemplo, a esterilização de quem se relacionava com judeus, a pena de morte, entre outros. Dentre os réus, estava a autoridade máxima do poder judiciário alemãoda época: Ernst Janning (interpretado por Burt Lancaster).
Para presidir o julgamento, fora nomeado o juiz aposentado Dan Haywood (Spencer Tracy), que se mostrava relutante com a condenação dos réus. Afinal, é difícil para um juiz, ou para qualquer outra pessoa, aceitar de pronto a idéia de que um juiz comete um crime simplesmente por aplicar a lei vigente em seu país. O simples fato dessa lei ser contrária ao que o restante do mundo acredita ser o correto faz com que o juiz deva ser responsabilizado? Um juiz que aplica a sentença de morte prevista em lei, em seu país, não estaria cometendo o mesmo crime que Janning e os outros? O restante do mundo possui ingerência sobre a soberania alemã ou de outro país a ponto de determinar quais são as leis que o juiz deve utilizar e quais não deve? A resposta não é simples, e só poderia ser em favor da condenação com base na reprovação ideológica dos atos cometidos pelos nazistas.
O filme em si é muito bem produzido, merecendo cada oscar que recebeu. Afinal, a ambientação é ótima, o roteiro é bem escrito e a apresentação de toda a problemática jurídica é de fácil acesso e esclarecedora para qualquer pessoa que desconheça o mundo judiciário. Além disso, as interpretações são de qualidade impressionante, fugindo da interpretação teatral típica dos filmes mais antigos e sendo capaz de atrair até mesmo o público contemporâneo para a situação apresentada. Spencer Tracy atende todos os requisitos para interpretar o juiz Dan, como um homem cordial, justo e atento a cada influência jurídica, filosófica e antropológica ao caso. Burt Lancaster, por sua vez, apresenta toda a altivez e erudição que se espera de alguém outrora tão influente e poderoso como Janning.
Além da trilha sonora (que é fraca), o principal ponto negativo do filme é a sua extensa duração. De fato, deve-se admitir que um filme sobre tema tão denso seja algo naturalmente cansativo, existindo uma tênue linha entre o que é interessante e o que é maçante. Portanto, o desafio de manter tal obra em uma ambientação cativante e digna de entretenimento (que é sempre um requisito inexorável do cinema) está diretamente interligado com a necessidade de que a peça seja dinâmica, com diálogos provocantes e acontecimentos reveladores. Contudo, mesmo que o filme conseguisse atingir este grau de dinamicidade por boa parte da obra (e não consegue em muitas partes), não seria possível manter esta qualidade pelas 3 longas horas de duração da película. Afinal, nem o filme de ação mais legal do mundo deixa de cansar seu público após a segunda hora de filme, imagina então um filme parado sobre um julgamento histórico recheado de discussões ideológicas... Assim, assistir a obra inteira sem bocejar, por melhor que ela seja, se revela um verdadeiro desafio.
Por fim, não gosto do deslinde final da trama. Embora a problemática seja apresentada com qualidade adequada, detesto a saída fácil e covarde que foi apresentada ao final (se não assistiu o filme, pule este parágrafo imediatamente!). A “confissão” de Janning (que admite ser criminosa sua conduta e de seus colegas) não se revela plausível, não faz jus a toda a caracterização do personagem anterior e retira do julgador a árdua decisão de reconhecer um terceiro como culpado. Há quem entenda que o filme soluciona de forma poética: Só o próprio homem, com a consciência pesada e com instutentável sentimento de culpa, pode, em face da ausência de lei que o incrimine, reconhecer a atrocidade de seus próprios atos e exigir punição. No entanto, acredito que esta versão da história aumente o seu caráter panfletário e diminua seu valor, pois dá aquela velha sensação de que é simplesmente uma história escrita por seus vencedores e não a retratação fiel de um acontecimento. Na minha opinião, o dram apresentado é enaltecido quando se ressalta que aqueles alemães tinham plena confiança de que não faziam nada errado ao obedecer as regras de seu Estado (é o que o filme “O leitor”, extremamente recomendável, mostra com uma excelência ímpar).

Assim, trata-se de um filme denso, sobre uma das questões mais tortuosas do direito internacional: Como julgar a conduta de um ser humano sem que este tenha transgredido seu próprio ordenamento jurídico? A ética é o suficiente? A soberania nacional é uma falácia? Embora o tema seja interessante, talvez seja desencorajador apresentá-lo por meio de um filme antigo de 3 horas de duração. Conhecer o evento e sua importância para a humanidade é imprescindível, mas  assistir ao filme é uma escolha (traduzindo: Não vou te falar que o filme é imperdível ou altamente recomendável). Só posso afirmar que se trata de uma ótima discussão antropológica, que me entreteve e proporcionou positivas reflexões, mas não posso garantir que alguém não tão interessado pelo tema não fique enfadado rapidamente quando assistir.

Nota: 7
Ano: 2003
Ator 1: Joaquin Phoenix
Ator 2: Jeremy Suarez
Diretor: Bob Walker/ Aaron Blaise
Oscar: Concorreu a 1, não ganhou.
Se enquadra nas seguintes categoria: Sessão da tarde; Mão na consciência; Vale pela trilha sonora; Infantojuvenil; Escapista; Um dos protagonistas é um animal.
Comentário: Existem dois tipos de pessoas: Aquelas que assistem todos os filmes da Disney que saem em cartaz (com exceção das continuações que saem apenas em Dvd, que ninguém assiste) e aquelas que apenas assistem os filmes da Disney que fazem muito sucesso e são classificados como imperdíveis pelo público e crítica (não consigo incluir uma categoria para pessoas que não assistem filmes da Disney...pra mim isso não é humano). Tenho que admitir que sou da segunda espécie descrita, de modo que não assisti muitos filmes conceituados como “médios”  pelo público geral, como Pocahontas, Mulan e cia. Eis o motivo de eu não ter assistido “Irmão Urso” até ele completar 10 anos de existência.
Contudo, eis que tive uma grata surpresa! Não conseguia entender por qual motivo esta obra não alcançou o mesmo sucesso de Aladdin e cia. Afinal, todos os velhos e adorados elementos  que caracterizam um filme épico da Disney são encontrados nesta obra com uma qualidade extraordinária: Personagens carismáticos e engraçadinhos, piadas de ótimo gosto; final emocionante e com ótima lição de formação de caráter para os pequenos; retratação de belezas naturais do mundo; trilha sonora genial (genial mesmo! Phil Collins meu amigo!); todo aquele ambiente místico e cativante; e tudo mais que se espera de um filme da turma do Mickey.
Peraí...tudo que se espera? Então é isso! Irmão urso não sai do padrão já visto anteriormente por todos, não inova, não apresenta nada de diferente para ser comentado posteriormente por seus espectadores. É, portanto, aquele filme que dificilmente tem algo para ser criticado, mas é plenamente compreensível o fato de não ser memorável. E isso é um problema? De maneira nenhuma! O padrão Disney é altíssimo e, por isso, mais uma obra neste patamar de qualidade será sempre bem-vinda, merecendo cada aplauso recebido no cinema e fazendo jus ao DVD na prateleira de cada marmanjo esperando para ser exibido para sua prole no momento correto.
A história se passa nas regiões congeladas onde habitam os esquimós e conta a história de Kenai (Joaquin Phoenix. Selton Mello na dublagem) e seus dois irmãos. Kenai, como todos os esquimós, recebe no seu rito de passagem para a vida adulta um totem, que representará sua função no círculo da vida. Este totem assume a forma de um animal e é revelado para o líder espiritual dos esquimós, representando características importantes de seu proprietário. Cada menino sonha então em ser agraciado com a representação da força ou coragem, com animais imponentes como tigres e leões. Kenai, entretanto, recebe o totem do amor, representado por um urso; e sua frustração é imediata. Apenas posteriormente, os motivos da escolha deste totem lhe será revelado.
Com a morte de um de seus irmãos por um urso (isto acontece nos primeiros minutos do filme, não pensem que estou estragando a história), Kenai se perde no sentimento de vingança e resolve aniquilar o animal que lhe causou tanta dor. É neste momento que os deuses lhe castigam e o transformam em um urso, incapaz de se comunicar com os demais humanos. O filme, assim, irá mostrar a jornada de Kenai para se tornar novamente um humano, e quem sabe compreender, no meio do caminho, um pouco melhor o sentido e o valor da vida.
O grande destaque do filme fica para o ursinho Koda (Jeremy Suarez), um filhote que resolve acompanhar o protagonista em sua jornada. Como sempre, a Disney consegue fazer um acompanhante fofinho e engraçadinho que arrancará suspiros das meninas, risadas dos meninos  e certamente fará você ter vontade de assistir novamente a obra quando alguma de suas cenas magicamente  voltar a sua memória.
Trata-se  de uma obra não muito conhecida e, por isso, uma ótima opção para quem quer uma novidade para se ver com a família ou um grupo de amigos (afinal, é raro conseguir achar um filme que ninguém do bando assistiu). No entanto, deve-se sempre ter em mente que se trata de um típico filme Disney (mais típico impossível), o que pode tornar a sugestão inadequada quando se espera algo menos meloso ou mais descontraído (isso nem precisava ser dito. Afinal, quem quer assistir um filme mais hardcore e cogita assistir um filme que tem dois ursinhos na capa??).